quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Review: Fabio Góes - O Destino Vestido de Noiva


Por Gabriel Augusto

Em 2007, o paulista Fabio Góes lançou uma obra-prima recheada de belas canções, o disco “Sol no Escuro”. Um álbum carregado de melancolia, hermético até nos momentos mais alegres. Ali Góes já se mostrava um grande letrista, com uma poesia profunda em sua simplicidade, fazendo com que o disco se tornasse instantâneo e acessível. Depois desse feito, restou a Fabio o desafio de lançar um segundo álbum que não deixasse a peteca cair. Desafio encarado, resultado bem-sucedido.

Amadurecido, ele disse em uma entrevista ter confiado mais em sua intuição. Diferente da temática mais universal do primeiro disco, Góes foi mais direto ao tratar do amor, não apenas no aspecto romântico, em “O Destino Vestido de Noiva”. Aliado a músicos muito competentes, criou estruturas sonoras que caíram muito bem sobre suas letras.

Tudo começa muito bem com “Tão Alto e Fora do Lugar”. O que se ouve é uma textura pesada, cinzenta, daquelas que nos deixam com a sensação de que tudo ao redor é obscuro e distante. Em contraposição, “Nossa Casa” é uma canção de amor delicada, suave, com certas doses de melancolia. Uma canção sentimental, eu diria. Surge então “A Rua”, que conta com a participação especial do ótimo músico e bom compositor Curumin. É uma das melhores do disco. Com uma presença acentuada do samba e com um refrão carregado, sua letra discorre sobre as mudanças que cercam a cidade, deixando mais evidente o lado urbano das composições de Góes. “Fugindo” é outra bela música. Logo no começo, Fabio manda uma ironia bem sacada, falando do “estágio fúnebre na Espanha”, país que ama ver “touro sangrar”. E assim segue a combinação de uma ótima letra com um arranjo consistente.

E também há espaço para desilusões amorosas, como é o caso de “Frágil”. É daquelas canções que fazem o coração doer, a face decair, e dependendo do estado emocional de quem escuta, lágrimas escorrerem. “A Escolha” explica o título do álbum. A letra tem um lado um tanto motivacional, mas em nenhum momento é chata ou exagerada. Em “E O Amor Que Não Cabe Mais”, Fabio poetiza muito bem a maturidade que alcançou aos 36 anos, falando mais especificamente sobre como sente ser pai. Traz uma textura linda que, aliada a letra, faz chorar quem é pai, quem teve ou tem um bom pai, ou quem nem isso teve. Dando continuidade a isso, “Amor na Lanterna” talvez seja o grande clímax do álbum. Não querendo soar repetitivo, maturidade é a palavra que resume a mensagem dessa bela canção. Contando com a participação da cantora Luísa Malta, o compositor novamente traz à tona as mudanças de pensamento que só o tempo traz, especialmente depois dos 30, algo que experimentarei daqui uns 15 anos. Além disso, “Na Pele”, “Sonho”, “Domingo E As Plantas” e “Incenso” também são dignas de atenção.

Enfim, Fabio Góes é um dos grandes nomes da MPB atual. E enfim, a crítica “moderninha” o subestima, preferindo a chatice poética de gente como Marcelo Camelo, Mallu Magalhães e o resto da panelinha que ainda assombra o cenário mais “cabeça” da música brasileira. Só resta minha provocação ao grande mestre Gabriel Albuquerque: esse é o disco que Pélico deveria ter gravado antes de ir pra alguma lista de melhores do ano.

Melancólico, obscuro, maduro, urbano. Quatro palavrinhas que definem muito bem as composições presentes no disco deste grande músico.




Nota 10:


Tracklist:

01 – Tão Alto E Fora Do Lugar
02 – Domingo E As Plantas
03 – Nossa Casa
04 – A Rua
05 – Fugindo
06 – Frágil
07 – Incenso
08 – A Escolha
09 – E O Amor Que Não Cabe Mais
10 – Na Pele
11 – Sonho
12 – Amor Na Lanterna

6 comentários:

Quem foi o burro que escreveu isso?

Haha! Ficou um ótimo texto cara. Ouvi esse disco há um tempo, mas não o achei tão bom assim. Depois de ler tudo isso, vou acabar ouvindo-o mais algumas vezes.

Já ouviu o disco ''Desconecidos'', do Quarto Negro? Dá uma conferida, acho que você vai gostar.

Porra, um dos melhores álbuns nacionais de 2011. Pena que só fui ouvi-lo depois de ter feito minha lista. Além do Quarto Negro, já dito pelo Gabriel, destaco Lê Almeida com "Mono Maçã" e Wado com "Samba 808" que também tem participações de Curumin e de Zeca Baleiro como melhores discos brazucas de 2011.

E boa resenha cara.

Deixei passar: o próprio Góes participa do "Samba 808", imperdível.

No Samba 808, também participam Mallu Magalhães e Marcelo Camelo em ''Na Ponta dos Dedos'', minha preferida do disco, que por sua vez, achei apenas bom.

Obrigado pelas dicas. Ouvi pouca coisa em termos de música nacional nesse último ano. Vou dar uma conferida aí.

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