Por Rodrigo Luiz
Quatro anos após A Matter Of Life and Death, seu último disco, o Iron Maiden lança o álbum mais complexo e desafiador de sua carreira. Não, The Final Frontier não é um álbum de rock ou metal progressivo, como muito se tem dito por aí. O álbum tem, sim, músicas longas, passagens "espaciais", trocas de tempo frequentes, além das influências progressivas de alguns integrantes mostradas ao longo da gloriosa carreira da banda, principalmente nos últimos discos, mas ainda não é o bastante para dizer que é um álbum de rock/metal progressivo. Apesar disso, neste álbum, é evidente a busca da banda pela experimentação.
A faixa que abre o disco, na verdade, são duas músicas diferentes que a banda resolveu juntar e dar um nome, Satelite 15...The Final Frontier. A primeira parte é uma intro muito diferente do que a banda costuma fazer, ela tem um um clima meio caótico em meio a guitarras distorcidas gemendo ao fundo e uma bateria constante em um ritmo marcial. Nicko McBrain se sai muito bem nessa parte. Passada a intro, que termina com um pequeno riff, quando esperamos algo explosivo e apocalíptico, surge uma canção meio hard rock e com um ritmo cadenciado, um enorme contraste à primeira parte, diria até que foi bobagem juntá-las. A segunda parte tem ótimos solos e carrega o nome do disco em seu grudento refrão, mas tem uma bridge fraca.
El Dorado, o primeiro single, apesar de ser uma boa música, não convence. Tem uma boa introdução, como se estivesse ao fim de uma música e segue em um andamento estranho, com Steve Harris cavalgando no baixo. A bridge ficou um pouco deslocada da música, que tem um bom refrão, cantado bem alto, mas que não se encaixa muito com o contexto da música. Os bons solos da canção pendem bem para o prog.
Em seguida temos Mother Of Mercy, um dos destaques do disco, porém, negativo. Tem uma introdução bem prog, com um começo mais cadenciado. A música tem um clima obscuro e bons solos, mas o refrão traz um timbre um pouco forçado de Bruce Dickinson, e se repete algumas vezes, deixando a canção arrastada. Coming Home é uma power-ballad que não cai na chatice. Lembra bastante o trabalho solo de Bruce e o solo tranquilo de Dave Murray seguido de outro mais agressivo de Adrian Smith depois do retorno ao tema da introdução que sucede o refrão remete até a sonoridade de 7th Son. O refrão é maravilhoso e os solos são fantásticos.
Seguindo o disco, The Alchemist. É a faixa mais rápida, bem ao estilo da banda, Maiden por excelência. É um faixa bem direta, lembra um pouco Man On The Edge, do X Factor. Tem um bom solo, mas não tem muito peso. A bateria é rápida, mas não tem o acompanhamento das guitarras, e tem um final seco.
Agora chegamos à parte épica do álbum, onde as influências progressivas na sonoridade do disco se tornam bem evidentes. Isle Of Avalon marca essa virada. Como muitas canções épicas do Maiden, a faixa tem uma intro lenta com guitarra e baixo e um vocal calmo de Bruce, num clima bem íntimo. Lembra um pouco Rime Of Ancient Mariner. Então chega a parte mais forte, com Bruce cantando lá no alto e com um solo numa base bem progressiva. A música tem boas pausas no ritmo e solos vindos de todos os lados em cima de riffs complexos. Uma das melhores músicas da banda no últimos tempos.
Starblind também tem uma intro calma, bem inferior a da faixa anterior, mas é curta e com alguns coros. A música tem um andamento incrível com várias mudanças de intensidade e excelentes passagens instrumentais. Na metade da música, a guitarra solta uma melodia muito igual a de Rock Bottom, do UFO, citado algumas vezes por Steve Harris como uma das principais influências da banda. A complexidade e a densidade da soma dos elementos, talvez, pode não ser digerida na primeira ouvida.
A faixa seguinte The Talisman, tem uma intro céltica, onde Bruce declama acompanhado por um violão, num clima que remete a Dance Of Death, e até algumas músicas do Blind Guardian. De repente a música explode, com Harris cavalgando no baixo. No refrão, a voz de Dickinson soa um pouco forçada, mas não compromete a música, que tem um ótimo coro de guitarra que surge em algumas partes da música. Tem ótimos solos, que remetem a The Apparition, do Fear Of The Dark, e também tem uma melodia de guitarra que lembra um pouco o de Virtual XI. Um dos pontos altos do álbum, embora pudesse ser mais curta.
The Man Who Would Be King tem uma bela introdução, e lenta, assim como as anteriores e uma linda melodia vocal. Tem um andamento cadenciado e um aumento constante de intensidade, que cai um pouco no refrão. Depois do refrão, surge um solo espetacular, acompanhado pela bateria de Nicko. A harmonia entre as guitarras e a bateria é fantástica nessa música.
Fechando o disco temos a faixa mais longa, com seus 11:02, e é outra faixa com uma bela introdução, com uma linda melodia vocal, que se repete no decorrer da música, e é substiuída por outra não menos bela em um momento. A música tem um andamento contínuo e melodias marcantes, cheias de feeling, e consegue ter uma atmosfera leve, apesar das guitarras surgirem de todos os lados. Um belo trabalho instrumental, preciso, fantástico, que termina na melodia vocal da introdução seguida pelo som do vento. A música fecha muito bem o álbum, sendo o ponto alto.
The Final Frontier é um discaço. Não é uma unanimidade, os fãs certamente esperavam algo menos experimental, menos inesperado, com músicas fáceis e cheias de energia, que o faz sair "bangueando" por aí e, provavelmente, não verão mais discos assim da banda, mas ainda assim é um disco excelente. A produção do disco, porém, está um pouco fraca, mas isso é um pouco recorrente no caso do Iron Maiden. Não sabemos até onde a banda dá liberdade ao produtor, mas em alguns casos ele tem que se impor, principalemente quando se fala no trabalho vocal, que soa forçado em algumas músicas e poderia ser facilmente ajustado, descendo um ou meio tom. É preciso muito mais cuidado com o vocal.
Dave foi o grande destaque dentre os guitarristas, que tem um incrível entrosamento, sendo responsável por solos fantásticos. Steve Harris mandou muito bem como sempre, apesar de estar um pouco discreto. Bruce é um dos melhores cantores de heavy metal da história, não tem o que discutir, interpreta as letras como ninguém. O grande destaque individual do disco foi Nicko McBrain, que se mostrou muito à vontade nesse estilo que a banda se propôs a tocar, com trocas de tempo, pausas no ritmo e tudo mais. Talvez a melhor atuação desde Piece Of Mind.
Resumindo tudo isso, The Final Frontier é um disco excelente, onde a banda consegue explorar de maneira incrível novas sonoridades. Como eu disse no começo do post, é o disco mais desafiador da carreira da banda, é muito contraditório e paradoxal, e isso é o que torna o álbum excelente, mas ao mesmo tempo, pode formar inúmeras divergências. Os fãs mais radicais podem até torcer o nariz a princípio, mas The Final Frontier é um álbum a se ouvir ouvir com a mente aberta e sem preconceitos. Para quem gosta de ouvir música prestando atenção nos detalhes, este disco é um prato cheio. E por favor, não parem de ouvir em Mother Of Mercy...Garanto que o disco melhora bastante!
2 - El Dorado
3 - Mother Of Mercy
4 - Coming Home
5 - The Alchemist
6 - Isle Of Avalon
7 - Starblind
8 - The Talisman
9 - The Man Who Would Be King
10 - When The Wild Wind Blows
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