Karina Buhr no Recife

Cantora celebra o auge com show vibrante em Recife

Entrevista: Into The Void

Em entrevista ao Metropolis Music, os americanos do Into The Void falam sobre seu novo álbum, a cena Metal da região, o processo de criação de seus clipes e muito mais

Pérola perdida

Funk, Prog e Jazz com os africanos do Demon Fuzz

Band of Skulls

"Sweet Sour apresenta o trio ainda mais flexível, partindo de canções puramente densas à composições com toda a sutileza do folk."

Leonard Cohen

"As velhas ideias deste senhor ainda são muito superiores à várias novas sensações do cenário musical."

terça-feira, 28 de junho de 2011

Álbum da Semana: Shin-Ken - Persefone

Persefone é uma banda andorrana de death metal melódico/progressivo. O grupo foi formado em 2001, e começou fazendo cover de bandas de death melódico, como o Dark Tranquility. O álbum de estreia, e com composições próprias, foi Truth Inside The Shades, no qual a banda utlizava muito elementos de música clássica às suas canções. Em 2006 a banda lançou Core, deixando um pouco de lado os elementos clássicos e apostando numa sonoridade mais grandiosa, moderna e progressiva, contando a história da deusa Perséfone, dividindo-a em três canções épicas com mais de 20 minutos.

Shin-Ken é o terceiro álbum da banda, baseado em histórias de guerras antigas japonesas. Segue a linha do anterior, mas com músicas mais diretas, rápidas e bem mais pesadas, executadas com muita técnica e muito bem trabalhadas. O som é super atmosférico, e tem bons contrastes entre os guturais do vocalista Marc Pia e a voz limpa do tecladista Miguel Espinosa Ortiz, entre guitarras super agressivas e belas passagens de teclado, além de um bom trabalho na bateria, que impõe ritmos poderosos acompanhados de excelentes melodias.

Apesar das músicas mais pesadas, como Fall To Rise, que abre o álbum a todo vapor, a presença do teclado dá espaço para músicas mais calmas, com Purity, que é inteiramente limpa, sem guturais ou guitarras distorcidas, além dos cinco interlúdios que representam os elementos da natureza, que compõem a estrutura do disco e dão mais ênfase à sua atmosfera. Outros destaques são Kusanagi (não banguear ouvindo essa música é impossível), Death Before Dishonour, que mostra toda a técnica da banda, e a faixa título, que é dividida em duas partes, uma super pesada e agressiva e outra mais calma, com bonitas melodias de piano.

Shin-Ken é um álbum complexo, e sempre dá pra perceber algum novo detalhe a cada audição, no qual a banda consegue misturar momentos de pura agressividade com belas melodias como poucas outras, chega a ser difícil acreditar como ela ainda é pouco conhecida. Disco altamente recomendado a fãs do gênero, ou a qualquer um que goste de um som rebuscado e bem trabalhado, que flutue para fora dos padrões.


Tracklist:
01. The Ground Book
02. Fall to Rise
03. Death Before Dishonour
04. The Water Book
05. The Endless Path
06. The Wind Book
07. Purity
08. Rage Stained Blade
09. The Fire Book
10. Kusanagi
11. Shin-Ken Part 1
12. Shin-Ken part 2
13. The Void Book
14. Japanese Poem
15. Sword of The Warrior (Cacophony cover)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Review: Saxon - Call To Arms

Por Douglas Paraguassu

Em meio a tantos lançamentos em 2011 de bandas já consagradas e outras buscando esse caminho e, em sua maioria de qualidade satisfatória, o Saxon, um dos grandes pilares do Heavy Metal tradicional, retorna aos holofotes com seu décimo nono álbum de inéditas, "Call To Arms". Sua capa traz uma releitura de "Lord Kitchener Wants You", famoso poster de recrutamento do governo britânico durante a Primeira Guerra Mundial.

O estilo Saxon de tocar e fazer música já é bem conhecido, riffs cortantes e uma levada à la anos 80, e é disso que se trata o novo disco, essa aura dos velhos tempos mesclada com o toque moderno necessário para num deixar a sonoridade ultrapassada e revestida de teias. Biff Byford havia declarado que "Call To Arms" é o melhor trabalho da banda em vinte anos e tamanha empolgação não chega a ser apenas um puro marketing, pois levando-se em conta a competência deste e o fato de que os clássicos absolutos marcaram os anos 80, há mais tempo do que vinte anos, a afirmação é algo a ser concordado.

A intensa Hammer Of The Gods, com cara de hit, e seu raivoso riff entram rasgando. Ótimo início! E como não podia deixar de ser em um álbum do Saxon, Back In 79 é um hino ao rock and roll e uma homenagem direta ao início da carreira do grupo, por isso, até nas notas das guitarras, transmite toda uma atmosfera saudosista. Em seguida mais duas importantes composições: a animada Surviving Against The Odds e Mists Of Avalon.

A faixa-título foi um ponto de grande inspiração da banda, uma balada que se destaca desde a voz de Byford (que em certas passagens lembrou a voz e a forma de cantar do Coverdale) até o belo solo. Sua letra é justamente sobre o chamado para a 1ª Grande Guerra e os pesares de um "alguém" inserido nela. E para dar um ar especial a ela, a última track é uma versão orquestrada muito bem escolhida.

Continuamos agora com Chasing The Bullet, um hard rock animado que é sucedido por Afterburner, uma das melhores faixas, com um riff pesadão de guitarras e bateria. Em When Doomsday Comes há a participação especial do rodado monstro dos teclados Don Airey numa introdução que remete bastante a de John Paul Jones em Kashmir, lendária canção do Led Zeppelin, e em um solo no final da música. E junto com esta última, No Rest For The Wickel foi escrita para o filme "Hybrid Theory", um thriller de ficção científica que narra a aflição de soldados britânicos dentro de uma batalha. Por fim, encerra a Ballad Of The Workin Man.

Para a alegria dos milhares de adoradores do tradicional gênero, a longeva banda inglesa, terra fértil para o heavy metal, volta em muito boa forma e novamente mostra talento em fazer o metal simples e direto que os elevou aos seu atual status.


Nota: 8,0
Tracklist:
Hammer Of The Gods
Back In 79
Surviving Against The Odds
Mists Of Avalon
Call To Arms
Chasing The Bullet
Afterburner
When Doomsday Comes
No Rest For The Wickel
Ballad Of The Working Man
Call To Arms (Orchestral Version)

Review: Within Temptation - The Unforgiving


Por Douglas Paraguassu 

Em 2007, "The Heart Of Everything" já começava a marcar uma mudança de sonoridade da banda Within Temptation. Porém, com "The Unforgiving", seu quinto álbum de estúdio, conceitualmente baseado em uma história em quadrinhos, eles bateram de vez com o martelo na mesa.

O Within Temptation envereda para um caminho mais comercial, ainda que isso não signifique perda de qualidade, muito pelo contrário. As caracteríticas sinfônicas continuam com coros (Lost, Murder, Stairway To The Skies) e violinos (Fire And Ice, Where Is The Edge, Murder) por todos os lados, o peso aumentou e as composições são muito inteligentes e acessíveis. Ser mais comercial, no caso, também não resultou em clichê, até porque não há músicas ruins, fracas ou chatas, e você simplesmente não consegue ouvir o disco apenas uma ou duas vezes, é impelido a clicar no botão "ligar repetição".

Cada detalhe foi bem pensado e bem posto. Riffs heavy podem ser ouvidos como em In The Middle Of The Night e em Iron carregando um ritmo rápido. E ainda há o toque melódico que não poderia faltar em belíssimas canções como Fire And Ice, Lost e The Last Dance (esta com uma levada folk, lembrando certos momentos do Nightwish). Sem falar da capacidade de hits de músicas como Faster, Shot In The Dark e Sinead. Tudo brilhantemente conduzido pela magnífica voz de Sharon Den Adel, que canta com uma maestria, beleza e leveza incríveis, sendo a atração principal.

Apesar dos críticos da sonoridade mais acessível da banda reclamando da "música fácil", até mesmo os fãs dos dois primeiros álbuns, "Enter" e "Mother Earth", completamente diferentes do que vemos hoje, os holandeses mostram revigoração graças a destreza nas letras, inovação e ao diferencial chamado Sharon.

The Unforgiving, portanto, é um álbum que mostra muito do bom gosto para composições do grupo, com melodias, frases e refrões que entram e latejam dentro da sua cabeça, sendo bastante agradável em todas as audições. Registra um novo começo, algo novo que não passará despercebido, vale muito a pena parar para ouvir.


Nota: 8,5



Tracklist:
Why Not Me
Shot In The Dark
In The Middle Of The Night
Faster
Fire And Ice
Iron
Where Is The Edge?
Sinéad
Lost
Murder
A Demon's Fate
Stairway To The Skies
I Don't Wanna
Empty Eyes
The Last Dance

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Review: UnexpecT - Fables of the Sleepless Empire

Por Guilherme Vaz 

Considerados um dos expoentes do avant-guarde metal extremo desde 2006 com "In a Flesh Aquarium", os canadenses do Unexpect (grafado também muitas vezes como uneXpect, unexpecT e UnexpecT) lançaram recentemente seu mais novo álbum de estúdio "Fables of the Sleepless Empire".

Mais variados do que as grafias do nome da banda são os diversos estilos que constituem sua música: black metal, death metal, thrash metal, progressive metal, melodic heavy metal, música clássica, dark cabaret, opera, música medieval, electro, ambient, noise, música cigana, música de circo, funk e jazz. Todas essas influências contribuem para o desenvolvimento do que mais chama a atenção no trabalho do grupo: a complexidade enfatizada em cada faixa de seus álbuns.

Se comparado com seu antecessor, "Fables of the Sleepless Empire" não trouxe grandes inovações. No entanto, é notável sua melhor produção e direcionamento para as composições, assim como o amadurecimento dos músicos, trazendo a tona faixas mais sólidas e coesas. As melodias soam mais claras e mais dinâmicas, mantendo seu brilho com trechos caóticos e por vezes passagens limpas, que se destacam com muita intensidade.

A capacidade técnica de cada integrante da banda é algo a parte. Seja pelo baixo de 9 cordas que cria linhas incríveis de groove juntamente a riffs encorpados de guitarra ou pelo violino totalmente avant que se sobressai com linhas paralelas ao peso do restante dos instrumentos, os músicos se fazem notar com muita virtuose. Os vocais são em sua maioria femininos, mas há também os masculinos. Ambos se destacam pela variedade de rosnados, grunhidos e guturais que muitas vezes criam arranjos se juntando ou alternando com vocais limpos.

"Fables of the Sleepless Empire" é daqueles álbuns que merecem ser ouvidos várias e várias vezes para se assimilar toda a riqueza de detalhes presente em cada uma de suas faixas. As várias camadas instrumentais que beiram a insanidade por tamanha complexidade e diversidade empregadas fazem deste a obra-prima da banda e mais um ponto de referência para o Metal Extremo. Superá-lo não será fácil, assim como foi árduo superar "In a Flesh Aquarium" (o que alguns, ainda, não acreditam ter sido feito). Um dos melhores álbuns de Metal lançados esse ano e acredito que, até o final deste, dificilmente será batido.

Nota: 10

Tracklist:

Unsolved Ideas of a Distorted Guest
Words
Orange Vigilantes
Mechanical Phoenix
The Quantum Symphony
Unfed Pendulum
In the Mind of the Last Whale
Silence this Parasite
A Fading Stance
When the Joyful Dead are Dancing
Until yet a few more Deaths do us Part



terça-feira, 21 de junho de 2011

Review: Anjo Gabriel - O Culto Secreto do Anjo Gabriel

Por Gabriel Albuquerque

O rock progressivo fez muito seguidores no Brasil durante a década de 1970, revelando nomes como O Terço e O Som Nosso de Cada Dia. Hoje o estilo não tem a mesma força, mas as caras novas que ainda aderem ao estilo têm tanta qualidade quanto os precursores do gênero no país. O quarteto recifense Anjo Gabriel já se mostra uma grande aposta em sua estréia, O Culto Secreto do Anjo Gabriel, que está disponível no tradicional formato CD e numa caprichada edição em vinil duplo.

O disco é um verdadeiro mergulho nos anos 1970, incluindo a mixagem feita com aparelhos analógicos. O som vai relevando diferentes influências. ''Sunshine in Outer Space'' lembra a psicodelia pesada do Hawkwind (banda formada por Lemmy Killmister em 1969), enquanto ''O Poder do Pássaro Flamejante (Dubdeepsabbath)'', como explica o seu subtítulo, agrega riffs pesados e dinâmicos inspirados pelo Deep Purple e Black Sabbath e o Dub, um segmento do reggae onde se valoriza o baixo e bateria e há inclusão de efeitos eletrônicos.

O ponto forte da banda é o instrumental, muito influenciado pelas jam bands e pelo krautrock. Mas a principal fonte de inspiração é talvez a cena psicodélica nordestina udigrudi, o que resulta em faixas como ''Astralysmo'' e ''Mantra III'' (cujos vocais foram feitos por um grupo hare krishna), que parecem ter saído do Paêbirú, de Lula Côrtes e Zé Ramalho.

Bolhas apaixonados pelos anos 1960 e 1970 e que ficam reclamando de que não tem coisa boa atualmente, ouçam O Culto Secreto do Anjo Gabriel e verão que estão redondamente enganados. Pare de reclamar e corra atrás desse petardo!

Nota 9,0:



Tracklist:

1. Peace Karma
2. Sunshine in Outer Space
3. Astralysmo
4. Mantra III
5. 1973
6. O Poder do Pássaro Flamejante (Dubdeepsabbath)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Álbum da semana: Psalm 69 - Ministry

Se o fim do mundo fosse acompanhado de demônios cuspindo fogo e o caos absoluto, este disco seria a trilha sonora ideal.

Sons de sirenes, gritos deseperados, pregações religiosas, guitarras dilacerantes e vocais que parecem evocar alguma maldição antiga. A síntese do metal industrial está aqui, só que feita com muito mais competência e qualidade do gente como o anti-cristo da Walt Disney Marilyn Manson. Psalm 69, uma ópera-rock satânica sobre o fim do mundo, foi concebida por Al Jourgenson e Paul Barker. O som criado pela dupla consegue aliar peso e agressividade a um som atmosférico, uma espécie de filme de terror para os ouvidos.

O clipe de ''Just One Fix'' causou polêmica mostrando um homem em crise de abstinência, e só foi ao ar na MTV depois do sucesso do álbum. ''Jesus Built My Hotrod'' destoa do som obscuro e sombrio das outras músicas, mas o seu single ajudou no sucesso do disco.

Apesar do música nada comercial e de difícil assimilação, Psalm 69 ganhou disco de platina e também foi bem recebido pela crítica, sendo eleito o quinto melhor disco do ano pela revista Spin. Além de marco zero para o metal industrial, também há o flerte da música pesada com a eletrônica em faixas como ''N.W.O.'', também sendo muito recomendado para quem quer começar a ouvir música eletrônica mas acha o Daft Punk repetitivo e o Chemical Brothers muito cabeça.

DOWNLOAD

Tracklist:

1. N.W.O.
2. Just One Fix
3. TV II
4. Hero
5. Jesus Built My Hotrod
6. Scare Crow
7. Psalm 69
8. Corrosion
9. Grace

domingo, 19 de junho de 2011

Review: Rhapsody Of Fire - From Chaos To Eternity

Por Rodrigo Luiz

E enfim a saga terminou. Depois do controverso The Frozen Tears Of Angels, o Rhapsody Of Fire lança From Chaos To Eternity, encerrando a "Emerald Sword Saga", ou as "Crônicas de Algalord", história que vem sendo contada nos álbuns da banda desde a estreia em 1997, com Legendary Tales. E a saga termina com toda a pompa que só cabe aos italianos.

O som característico da banda sempre foi o mesmo, sem tantas mudanças na estrutura, e não é neste álbum que veremos alguma. Um som grandioso, épico, "Hollywoodiano", como a própria banda gosta de dizer é o que se encontra aqui, além de alguns elementos barrocos. E neste álbum a banda conta ainda com o virtuoso Tom Hess, famoso por seus cursos online de guitarra. A entrada do guitarrista só aumentou o poder do grupo, e From Chaos To Eternity apresenta um dos melhores trabalhos instrumentais da banda. O trabalho nos teclados está mais moderno, e conta até com timbres eletrônicos. As orquestrações estão mais simplificadas, mas ainda dão aquela atmosfera épica quando aliadas a corais líricos, e cumprem o seu papel perfeitamente. A produção está impecável, como sempre.

Como de costume, o disco abre com uma narrativa, Ad Infinitum, e Christopher Lee mais uma vez empresta sua voz. A narração é seguida de um coro e já emendada com a faixa-título, rápida e com um poderoso refrão, com coros fortes elevando a atmosfera épica. Em seguida temos Tempesta Di Fuoco, o primeiro speed metal da banda cantada em italiano, possui um bom solo de teclado, com um timbre mais moderno, o que não é muito usual nas canções da banda.

Ghost Of Forgotten Worlds é a próxima faixa, com guitarras ativas e virtuosas, e com uma grande atuação de Fabio Lione. Anima Perduta é uma canção típica dos álbuns da banda, com uma atmosfera bastante lírica e cantada em italiano. Aeons Of Raging Darkness é rápida e tem orquestrações carregadas, e conta até com alguns vocais rasgados de Fabio Lione. I Belong To The Stars é outra com toques mais modernos, possui coros incríveis e diferentes camadas de vozes.

As melhores faixas são as duas últimas. Tornado explora ao máximo as características da banda, tem guitarras limpas e rápidas, boas orquestrações coros inspiradores. Heroes Of The Waterfalls' Kingdom é a faixa que resume toda a história da saga, ao longo de seus vinte minutos. Tem diversas narrações e diálogos, começa como uma folclórica música italiana, depois tem uma passagem mais densa, com orquestrações carregadas e até a presença de guturais, seguida de solos de guitarra em meio ao caos, que dão lugar a um speed metal com coros potentes e refrãos empolgantes, encerrando o álbum com maestria.

From Chaos To Eternity não é o melhor da banda, mas encerra a saga contruída de forma digna. Uma característica da banda é que, apesar de a estrutura seguir a mesma e sem tantas mudanças, as canções dos discos são bem distinguidas, tanto nas letras quanto nas sinfonias, isso faz os discos soarem individuais e faz a banda conseguir renovar a história a cada álbum lançado. Que o fim dessa saga não acabe com a criatividade do grupo, e que venham outras sagas por aí.


Nota 8,5


Tracklist:
1. Ad Infinitum
2. From Chaos to Eternity
3. Tempesta Di Fuoco
4. Ghosts of Forgotten Worlds
5. Anima Perduta
6. Aeons of Raging Darkness
7. I Belong to the Stars
8. Tornado
9. Heroes of the Waterfalls' Kingdom

Review: Black Country Communion - 2


Por Guilherme Vaz

Há menos de um ano atrás, o Black Country Communion apresentava ao mundo o seu ótimo debut, "Black Country", conseguindo uma ótima repercussão tanto com os fãs quanto com a mídia especializada. Logo a banda voltou ao estúdio para gravar um novo álbum, intitulado apenas de "2". Para aqueles que ainda não sabem, o Black Country Communion é uma banda formada por Glenn Hughes (baixo, vocal), Joe Bonamassa (guitarra, vocal), Derek Sherinian (teclado) e Jason Bonham (bateria), ou seja, a soma de músicos deste calibre e a amostra que tivemos em "Black Country" tornou iminente a qualidade musical esperada em "2", provando novamente que o Black Country Communion não veio apenas para dar mais volume à lista dos chamados "supergrupos".

No geral, não houveram grandes mudanças no estilo do Black Country, é em sua maior parte o mesmo Hard/Blues Rock presente no primeiro disco, porém o que fica claro logo de cara é que há uma melhor distribuição instrumental em "2", especialmente em relação aos teclados de Derek Sherinian, que deixaram de servir apenas como plano de fundo e se tornaram muito mais presentes nas composições. Não é necessário ir muito longe para perceber isso, basta conferir a primeira faixa, The Outsider, uma paulada perfeita para abrir o disco e que conta com solos de teclado no melhor estilo Deep Purple.

Há algumas fortes influências do Led Zeppelin, seja nos riffs de guitarra ou na forma de tocar de Jason Bonham, que se assemelha a forma que seu pai (John Bonham) tocava. Porém, o que deixará os fãs de Led Zeppelin realmente interessados é a música Save Me, que é uma espécie de faixa inacabada do Zeppelin. Jason começou a compor a música com Jimmy Page e John Paul Jones na época do show de reunião do Led Zeppelin em 2007. O baterista pegou a ideia inicial da canção e terminou de escrevê-la com seus companheiros de banda, o resultado está presente em "2".

Glenn Hughes novamente rouba a cena com seu baixo pulsante e a potência impressionante de sua voz, dando um show de técnica vocal e interpretação, seja em faixas mais agressivas como Man in the Middle (confira o clipe da música aqui) ou em outras mais melancólicas como Little Secret. Esta última, uma música mais bluseira onde Joe Bonamassa simplesmente faz a guitarra chorar. O guitarrista também assume os vocais principais em duas faixas, The Battle for Hadrian's Wall e An Ordinary Son, duas músicas que conseguem se sobressair por suas atmosferas diferenciadas do restante do álbum. Porém, o ápice chega na faixa final, a dramática e viajante Cold.

Pela segunda vez seguida, o Black Country Communion brinda os fãs do bom e velho Rock 'n Roll com um trabalho que resgata o tipo de sonoridade que muitos sentiam falta. Mais uma vez a banda cumpre o que se propõe a fazer com maestria, portanto se você gostou do primeiro não hesite em ir atrás de "2" e aumentar o volume!

Nota: 9,5


Tracklist:
01. The Outsider
02. Man In The Middle
03. The Battle For Hadrian's Wall
04. Save Me
05. Smokestack Woman
06. Faithless
07. An Ordinary Son
08. I Can See Your Spirit
09. Little Secret
10. Crossfire
11. Cold

Review: Amon Amarth - Surtur Rising


Por Douglas Paraguassu 

Exemplo de banda que sobe de produção a cada álbum de inéditas, o Amon Amarth tem em 2011 a inglória missão de então superar "Twilight Of The Thunder Gods", de 2008. O nome da vez é "Surtur Rising", um dos mais aguardados do ano.

A qualidade musical deles permite fazer um som bem variado mantendo o mesmo peso em todas as músicas. Söderberg e Mikkonen estão bem entrosados nas guitarras e contam com o auxílio de uma cozinha que os guarnece muito bem. Além, é claro, de Johan Hegg, dono de um gutural impressionante, de uma voz cavernosa - em perfeita sintonia com a música - que pouquíssimos conseguiriam fazer ressoar.

Perpassando por temas do folclore celta, as canções correm pelos seus ouvidos repletas de riffs poderosos, rápidos e técnicos. War Of The Gods inicia de forma espetacular e poderia tranquilamente ser encaixada no último álbum; seu solo é excelente e cheio de feeling. Na mesma medida de riffs e solos está Destroyer Of The Universe, outro destaque. Slaves Of Fear e Live Without Regrets entram rasgando com velozes paletadas alternadas e vão ficando mais compassadas no refrão.

Entretanto, após começar a mil por hora, o álbum dá uma acalmada com o ritmo de The Last Stand Of Frej que envolve por toda uma melodia. Em seguida temos mais uma pedrada: For Victory Or Death, que lembra grandes clássicos da banda. O melhor, porém, está em Wrath Of The Norsemen: começa com um riff cadenciado, muda para as velhas palhetadas alternadas e cai no melhor refrão do disco. Doom Over Dead Man, a última faixa, também possui uma bela aura de melodia, possuindo até mesmo algumas passagens de violino.

"Surtur Rising", portanto, tem um repertório redondo, com tudo o que o Amon Amarth teria para oferecer em seu som. Apesar do pouco tempo de lançamento, já está sendo bastante elogiado pela crítica e pelo público. Então, é correr atrás e ouvir!

Nota: 9,0



Tracklist:

War Of The Gods
Tocks Taunt - Lokes Treachery Part II
Destroyer Of The Universe
Slaves Of Fear
Live Without Regrets
The Last Stand Of Frej
For Victory Or Death
Wrath Of The Norsemen
A Beast Am I
Doom Over Dead Man

sábado, 18 de junho de 2011

Vídeo Clipe do Mês

Após a saída de Dio do Black Sabbath, Tony Iommi convidou Ian Gillian para gravar os vocais do próximo disco da banda, Born Again. O disco não foi bem recebido pela crítica nem pelos fãs, que esperavam um pouco mais dessa parceria. Mais de vinte anos depois, Iommi e Gillian se juntam a outros consagrados músicos como Nicko Mcbrain, Jon Lord, Jason Newsted (ex-Metallica) e Linde Lindstrom (HIM) para gravar um compacto em CD com duas faixas para arrecadar fundos para reconstrução de uma escola de música na Armênia que foi destruída por um terremoto. ''Out Of My Mind'' é a faixa principal e a única que ganhou um vídeo clipe.

O segundo vídeo é do amigo e arqui-rival de Frank Zappa, falecido no ano passado, Captain Beefheart e a sua Magic Band com ''Sure Nuff 'N' Yes I Do'', uma faixa do seu disco de estréia Safe As Milk.


Top 3: Caetano Veloso

 Por Gabriel Albuquerque

Quando criança, Caetano recusava os convites para brincar na rua em troca de observar no seu quintal um açucena-lágrima-de-vênus. Essa sensibilidade aguçada não viria para a música logo de primeira, os projetos do jovem baiano ficavam entre a filosofia, literatura, cinema e pintura. Tudo mudou quando um amigo lhe chamou para ouvir um disco de um ''cara que canta diferente, tudo desafinado. A voz dele vai para um lado e ao orquestra vai para o outro.'' Chega de Saudade, de João Gilberto fez Caetano se apaixonar pela música: ''eu já gostava de cantar, mas aquilo colocou a música popular no centro do meu interesse'', conta Caetano.

A obra do filho de dona Canô e irmão de Maria Bethânia desconhce redomas estéticas. O iníciou foi com a bossa, depois eletrificou a MPB e liderou, juntamente com o ídolo e parceiro Gilberto Gil, a tropicália, fez experimentos musicais e música pra assobiar e cantar junto. Além de tudo, Caetano não vive das glórias do passado, nos últimos anos lançou discos de qualidade, como Zii & Zie e , e fez uma parceria de gosto duvidoso com a cantora e - vá lá - compositora Maria Gadú.

Ao tentar explicar que é Caetano Veloso para os americanos e europeus, é feito um híbrido de Bob Dylan, Syd Barret, John Lennon e Bob Marley. Caê é motivo de orgulho nacional, os americanos e europeus jamais terão um Caetano Veloso, e talvez por isso ele é/foi idolatrado por lendas como Kurt Cobain e David Byrne.

Caetano Veloso (1968)

A estréia de Caetano (o primeiro disco, Domingo, foi gravado em parceria com a sua grande amiga Gal Costa) foi pedra fundamental para a consolidação da tropicália, uma versão brasileira rebelde do rock dos Beatles e Stones. ''Trópicalia'' é carregada de metáforas e críticas a política (o ''monumento'' é uma referência ao congresso de Brasília) o ''ta-ta-ta-ta'' no refrão é uma alusão ao som de metralhadoras, todo esse turbilhão de raiva codificado é embalado em um arranjo denso e pesado. ''Alegria, Alegria'' chocou os puristas da MPb - que viam a influência do rock como uma alienação cultural - com a guitarra elétrica tocado pelos argentinos do Beach Boys. Mesmo assim, a canção fez sucesso no festival da rede Record em uma apresentação memorável que lhe rendeu a quarta colocação no festival.

O disco foi um sucesso entre os adolescentes, mas não para a ditadura, que o mandou junto com o seu parceiro Gilberto Gil para o exílio em Londres, o que só veio aumentar o seu status de lenda e renderia pérolas como ''Debaixo dos Caracóis dos Teus Cabelos'', composto por Roberto Carlos para Caetano.

Transa (1972)

Enquanto Caetano Veloso de 1968 era uma raivosa declaração crítica e um chamado aos jovens, Transa era o oposto. Com uma partição tímida de guitarra elétrica, o disco foi composto e gravado na fria capital inglesa, mas lançado no ano em que o músico baiano retorna ao seu país natal.
Os arranjos (não creditados na ficha técnica inexistente) ficaram por conta dos amigos Jards Macalé, Tutti Moreno, Moacyr Albuquerque e Áureo de Sousa. O violão de Caetano é limpo e claro, proporcionando boas melodias, como em You Don´t Know Me, mas vai muito além disso. ''Nine Out Of Ten'' é segundo o próprio músico, sua melhor composição em inglês e ainda segundo ele, ''a primeira vez que algum artista brasileiro toca alguns compassos de Reggae''. A genial letra de ''Mora na Filosofia'' foi composta pelo sambista Monsueto Menezes, e a hiponga ''Triste Bahia'', com fraseados de berimbau, tem uma estrofe do poeta barroco Grégorio de Matos, mais conhecido como ''Boca do Inferno''.

Transa é apontado várias vezes como o melhor disco de Caetano, e ficou em décimo lugar numa lista da Rolling Stone Brasil dos maiores discos da música nacional. Este era apenas o primeiro dos quatro discos que o músico lançaria inspirado pelo seu retorno ao país naquele ano.

Araçá Azul (1972)

Em Araçá Azul a habilidade de harmonizar extremos de Caetano ficou clara: uma desconstrução de música misturando dodecafonia com samba de prato. O disco é altamente experimental e excluiu Caetano de qualquer rótulo já imposto sobre ele. ''De Conversa'' e ''De Palavra em Palavra'' não tem música ou letra, é uma colagem de sons criando uma impressão de música, antecipando (e talvez influenciando) assim a noise music e Lou Reed em Metal Machine Music. ''De Cara/Eu Quero Essa Mulher'' tem uma guitarra distorcida mais pesada do que o Led Zeppelin estava acostumado e mais rápida do que Tony Iommi o Sabbath. Por outro lado, ''Tu Me Acostumbraste'' e ''Araçá Azul'' são lamentos melancólicos amplificados pela interpretação pessoal e intimista de Caetano.

''Um disco para entendidos'', como dizia o texto do interior do LP de capa dupla. Araçá Azul não agradou de imediato e teve inúmeras devoluções pelo seu conteúdo experimental e sons aleatórios sem harmonia alguma. Hoje é considerado uma obra-prima, tanto pela crítica quanto pelos fãs, além de ser o disco oficial mais caro do músico.

Review: DevilDriver - Beast



Por Douglas Paraguassu 

Banda de death metal originária da Califórnia, EUA, o DevilDriver lança em 2011 "Beast" com a tarefa de tentar igualar ou superar os ótimos "Pray For Villains" (2009) e "The Last Kind Words" (2007).

Muitas bandas deste gênero de metal extremo mais melódico têm caido inevitavelmente na repetição e com seu som se deixando abater pelo tédio. Outras, empolgam mais a cada álbum. O último caso é o do DevilDriver que se não fez nada de tão inédito, conseguiu compor músicas que ultrapassam a barreira da falta de inspiração, fazendo assim uma espécie de greatest hits. Os musicistas imprimiram a mesma pegada do início até a última nota, não permitindo que você fique um só minuto com vontade de trocar de música. Sim, este álbum supera tudo o que o grupo já fez.

Começando já com um petardo, Dead To Rights, música muito bem escolhida como primeira faixa. Com as guitarras ditando os riffs e as batidas da bateria de John Boecklin massacrando simutanemente, a canção vai fluindo de forma avassaladora até o ótimo refrão. Junto com ela, mais duas tracks entram para o top da banda: Bring The Fight (To The Floor) e You Make Me Sick, com riffs potentes e vocais totalmente hostis e soberbos de Dez Fafara, que tem uma atuação impecável. "Beast" ainda tem um desfile de outras pancadas na orelha: Shitlist, Coldblooded, The Blame Game, Black Soul Choir, etc. Todas fantásticas.

"Besta" mostra a força do DevilDriver - que se mostra uma verdadeira monstruosidade sonora, no bom sentido que isso pode ter no contexto do death metal - podendo facilmente figurar entre os melhores do ano. É garantido que agradará a qualquer fã de metal pesado com verdadeiros guturais bem feitos. Recomendadíssimo!


Nota: 9,0




Tracklist:

Dead To Rights
Bring The Fight (To The Floor)
Hardened
Shitlist
Talons Out (Teeth Sharpened)
You Make Me Sick
Coldblooded
Blur
The Blame Game
Black Soul Choir
Crowns Of Creation
Lend Myself To The Night

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Review: Graveyard - Hisingen Blues

Por Guilherme Vaz

Após o lançamento de seu debut autointitulado, os suecos do Graveyard alcançaram certa notoriedade e passaram um bom tempo na estrada. Contados três anos de pura expectativa por um novo disco de inéditas, eles retornam com Hisingen Blues para acabar com a ansiedade dos fãs.

Como o título deste indica, há uma grande influência trazida por parte do blues, aumentando ainda mais a vibe setentista presente em seu decorrer, com solos estridentes e riffs marcantes. Toda a aura stoner/doom apresentada no disco anterior é mantida, dando espaço mais uma vez para faixas pesadas e arrastadas como "Ungrateful Are The Dead" e "No Good, Mr Holden" onde os vocais encorpados de Joakim Nilsson e Jonathan Ramm ganham destaque, assim como os coros bem encaixados em ótimos aranjos vocais nos refrões. O lado psicodélico do quarteto não é esquecido, aparecendo em Buying Truth (Tack & Förlåt) e "The Siren", que encerra o play.

A atual cena rock sueca não costuma desapontar, o Graveyard é mais uma prova disso, se concretizando como um dos expoentes desta. Apesar de apostar em uma sonoridade baseada basicamente na década de 70, o quarteto consegue soar novo e independente, com somente uma audição para justificar. Hisingen Blues preserva as características que alçaram a banda em seu debut e acrescenta novos elementos para enriquecer sua música. Recomendado aos ouvidos ávidos pelo classic rock, em sua mais pura essência.

Nota: 9

Tracklist:

Ain’t Fit To Live Here
No Good, Mr Holden
Hisingen Blues
Uncomfortably Numb
Buying Truth (Tack & Forlat)
Longing
Ungrateful Are The Dead
Rss
The Siren




quarta-feira, 15 de junho de 2011

Heróis do Udigrudi

Por Gabriel Albuquerque

O Brasil teve vários movimentos musicais que sacudiram o mundo. A bossa nova no fim década de 1950 e a tropicália nos últimos anos da década seguinte. O udigrudi surgiu no recife e conciliava o rock psicodélico e a música regional. O movimento tinha caráter de contra-cultura, uma espécie de ''pós-woodstock recifense'' e ia muito além da música, englobando também peças teatrais, o cinema, artes plásticas, literatura e artesanato.


O pioneiro dessa fusão de ritmos distintos foi Lula Cortês, que abriu as portas do udigrudi com o seu disco de estréia, Satwa, que também incursionava pela música oriental e era movido a cogumelos alucinógenos. Foi lançado em 1973 com a participação de Lailson - que ganhou fama internacional pelos seus cartuns e charges publicados nos jornais Diário de Pernambuco e O Pasquim - tocando craviola e do prodígio da guitarra Robertinho do Recife. Lailson diz que Satwa é todo instrumental porque não queria apresentar as letras à polícia federal - o que era lei na época da ditadura militar. O álbum também foi o primeiro independente nacional e não teve boa repercussão na época, um lenda underground obscurecida. A distribuição foi basicamente regional; não houve reedição em vinil e ainda permanece inédito em CD.


Cortês abriu as portas de sua casa e a transformou num recanto cultura, um verdadeiro ''QG da psicodelia'', como descreveu Zé da Flauta, um ativo participante do movimento. ''uma escola de artes aberta onde se fazia livros, discos, shows, fotografia, filmes Super 8, trabalhos gráficos e se ouvia muita música, muita!'', relembra. Com a sua casa transformada em ponto de encontro, é de se entender porque o disco seguinte, Paêbiru, o ''Tropicalia nordestino'' (uma comparação sensata, tendo em vista que reuniu grandes nomes da cena, como Geraldo Azevedo e Alceu
Valença) demorou dois anos para ser lançado. Mas também não há motivos para reclamar: Paêbiru não só apresentou o paraibano Zé Ramalho - cansado de embalar músicas iê iê iê e da jovem guarda em bailinhos de João Pessoa - ao mundo, é um dos melhores discos nacionais da história, com pedradas como ''Nas Paredes da Pedra Encantada, O Segredo Talhado Por Sumé'', a pancada lisérgica de ''Trilha de Sumé'' e ''Não Existe Molhado Igual ao Pranto'', claramente feita sob efeito de ''expansores do músculo cerebral'', como diria o grande Arnaldo Baptista.
Os quatro lados do vinil duplo homenageavam os quatro elementos da natureza. Houve apenas uma prensagem do álbum de 1.300 cópias, sendo que 1.000 foram destruídas após a enchente que abalou a capital pernambucana naquele ano e abalou o estúdio em que estavam estocados; as cópias restantes que estavam no carro de Kátia Mesel, esposa de Lula e responsável pela mística arte da bolacha. Hoje Paêbiru é o disco mais caro do Brasil, superando a estréia de Roberto Carlos em Louco Por Você. Uma cópia da primeira tiragem em bom estado pode valer até 4.000 reais.

A casa de Côrtes e sua esposa Kátia não era o único ponto de referência dos artistas do movimento. O Beco do Barato, na avenida Conde da Boa Vista, centro do Recife, abrigava reuniões da vanguarda. Zé da Flauta, Lula Cortês, Lailson e integrantes do Ave Sangria eram figurinhas carimbadas de lá. Em 2004, foi lançado o CD A Turma do Beco do Barato - Antologia 70. O projeto foi idealizado por Humberto Felipe, que explicou o porquê da realização do CD para o jornalista Marcos Toledo, do JC Online: “Toda essa história ficou meio esquecida, tanto de gente de hoje quanto de quem viveu a época e não estava antenado.” Fã do Ave Sangria, conta que a idéia sugiu como uma homenagem a banda com participações especiais. “Ao invés de ficar limitado a um nome, resolvi ampliar, não usar o nome Ave Sangria, mas pegar o mais representativo e fazer a Antologia 70”, explica.


A decisão foi sábia: das onze canções da tracklist, sete são inéditas, duas que a Phetus (que contava com Lailson e Zé da Flauta) e a Ave Sangria fizeram a cerca de 30 anos atrás mas nunca tiveram a chance de gravar. As regravações de ''Dois Navegantes'' e ''O Pirata'' por Almir e Marco Polo respectivamente, os principais compositores do Ave Sangria, e ''As Estradas'' e ''Dos Inimigos'' foram valorizadas pela ótima qualidade da gravação, constratando com o som das versões originais.


O Ave Sangria é banda mais popular do udigrudi (talvez por ter sido a única que assinou com uma grande gravadora, a Continental) e até hoje se apresenta em alguns festivais, como
aconteceu nas últimas edições do Psicodália e do Abril Pro-Rock, se apresentando ao lado dos admiradores conterrâneos da Anjo Gabriel. A Ave tinha uma postura que chocava a todos: usavam batom e se beijavam em pleno palco. Mais tarde, Rafles - uma espécie de acessor do grupo e notório doidão da época que chegou a mandar um baseado pelos correios para Paul McCartney (e recebeu em resposta uma fotografia autografada e o devido agradecimento do Beatle) - acaba com a lenda em volta da banda: ''O batom era 'Mertiolate', que a gente usava para chocar. Não sei de onde surgiu essa história de beijo na boca, a única coisa diferente na turma eram os cabelos e as roupas.''
Apesar de ter sido pouco divulgado, o primeiro e único disco homônimo do conjunto teve uma boa repercussão, principalmente no Sudeste, mas a faixa de maior sucesso, o samba-choro ''Seu Waldir'' foi censurada pela ditadura da época, que a considerou como uma ''apologia ao homossexualismo''. O álbum foi relançado sem a polêmica música, mas a mídia já tinha perdido o interesse nos rapazes. A rede Globo, por exemplo, não transmitiu o clipe de ''Georgia A Carniceira'' feito para o Fantástico. Com isso o grupo perdeu o pique: ''A gente era um bando de caras pobres, alguns já com filhos, a grana sempre curta. No aperto, chegamos até a gravar vinhetas para a TV Jornal (uma delas para o programa Jorge Chau)", relembra Marco Polo

Começaram a aparecer teorias de que o Waldir citado na música era real e o vocalista havia se apaixonado por ele. Marco esclarece tudo: "Eu fiz Seu Waldir, no Rio, antes de entrar na banda. Ela foi encomendada por Marília Pera para a trilha da peça A Vida Escrachada de Baby Stomponato, de Bráulio Pedroso, que acabou não aproveitando a música".


Outro disco que merece ser destacado é No Sub Reino dos Metazoários, do paraibano Marconi Notaro. Em ''Ah Vida Ávida'', Notaro, Cortês e Zé Ramalho fazem uma pequena obra prima, um lamento viajandão, mas o momento mais radical é ''Made In PB'', um rockão com a épica guitarra distorcida de Robertinho do Recife e efeitos de eco.

Alceu Valença e Geraldo Azevedo foram outros que simpatizaram com udigrudi: a estréia dos dois foi com o disco Quadrafônico, que denotava influência da cena em canções como ''Planetário'' e sua letra viajandona, e na dramática ''Erosão'', carregada de variações de andamento. Alceu ainda beberia mais da fonte psicodélica no disco Vivo!, de 1976.

Hoje em dia, o udigrudi é desconhecido da maioria dos brasileiros, amado por colecionadores e gringos fãs da música brasileira. Lamentável, a cena foi muito mais do que ''o hippie nordestino'' ou mais alguma reação pós woodstock, revelou artistas de renome, respeito e qualidade inquestionáveis e influênciou outras revoluções da música que surgiriam a seguir, como o manguebeat, liderado pelo memorável Chico Science na década de 1990. Mas também não ficou só na música, o udigrudi combateu a ditadura valorizando a força do pensamento e das idéias e mostrou um novo jeito de ser e de fazer.



Recomendado:

Álbum da Semana: Fused - Tony Iommi & Glenn Hughes


A primeira parceria entre os lendários Tony Iommi e Glenn Hughes aconteceu em 1985 quando Iommi foi abandonado pelo restante de seus parceiros no Black Sabbath. Iommi recrutou uma nova formação, que incluía Glenn Hughes, para o que seria seu primeiro álbum solo, "Seventh Star". Porém por pressão da gravadora, o disco foi lançado como um álbum do Black Sabbath e gerou uma certa polêmica entre os fãs, por se afastar um pouco da sonoridade tradicional do Sabbath.

Glenn Hughes foi demitido após alguns shows da turnê de "Seventh Star", sendo substituído por Ray Gillen. A dupla voltou a trabalhar novamente em 1996 quando gravaram algumas canções, porém sem a intenção de lançarem um álbum. As gravações logo caíram nas mãos de fãs e passaram a circular entre o público, o bootleg recebeu o nome de "Eighth Star". Somente em 2004 as gravações foram remixadas e lançadas no EP "The 1996 DEP Sessions".

Com a boa repercussão do EP, Iommi e Hughes se juntaram um ano depois e lançaram o ótimo "Fused". O casamento perfeito entre a grandeza da voz de Glenn Hughes e o peso dos riffs de Tony Iommi. Um disco avassalador do começo ao fim e talvez o auge da parceria desta dupla. Altamente recomendado!

DOWNLOAD

Tracklist:
01. Dopamine
02. Wasted Again
03. Saviour of the Real
04. Resolution Song
05. Grace
06. Deep Inside a Shell
07. What You're Living For
08. Face Your Fear
09. The Spell
10. I Go Insane

(Para ter acesso ao link é necessário estar cadastrado no Forum Metal Is The Law).

Review: MaYaN - Quarterpast


Pedro Kirsten

Mayan é o novo projeto paralelo de Mark Jansen, fundador, guitarrista e vocalista do Epica. O Mayan (ou MaYaN, como a banda gosta de escrever) traz um excelente time de músicos em sua formação, fora Mark Jansen a banda também conta com: Isaac Delahaye, Ariën Van Weesenbeek, Frank Schiphorst, Rob van der Loo e Jack Driessen, fora diversas participações especiais.

"Symphonic Death Metal Opera", são com essas palavras que você deparará ao olhar para a capa de "Quarterpast", e tais palavras ajudam a definir a sonoridade aqui encontrada. O Mayan se assemelha em partes ao que Jansen já produziu em suas outras bandas, After Forever e Epica, porém dando muito mais ênfase ao lado Death Metal da coisa, que apesar de sempre presente, nunca chegou às proporções de "Quarterpast". As músicas foram em sua grande parte compostas por Mark, Frank e Jack, o que leva as composições para caminhos diferentes dos tomados pelas supracitadas bandas, dessa forma também, atingindo públicos diferentes.

O álbum abrange de maneira impecável diversas vertentes da música pesada, entre as mais notáveis estão Death/Black Metal, Symphonic Metal e Prog Metal. Tamanha variedade eleva consideravelmente o nível de complexidade do disco, tornando necessária mais de uma audição para que todas as camadas musicais possam ser exploradas com a devida atenção.

As faixas fluem de maneira bastante natural. Apesar da brutalidade intensa, há orquestrações fortes e diversas passagens melódicas, incluindo a adição de vocais limpos, tanto masculinos quanto femininos. "Quarterpast" conta com as participações especiais de: Henning Basse, Laura Macri, Simone Simons e Floor Jansen. As duas últimas nem tanto surpreendentes, porém com a mesma competência e talento de sempre. O trabalho de guitarras está bastante presente, com vários riffs e passagens técnicas e interessantes de Isaac Delahaye e Frank Schiphorst (Mark Jansen assume apenas os vocais no MaYaN). De modo geral, um álbum surpreendente e que foge do excesso de clichês.

É difícil recomendar "Quarterpast" para uma parcela específica do público por causa das diversas direções que toma ao decorrer das faixas, porém é um trabalho que dificilmente desapontará fãs de bandas como o Epica e também será de grande agrado para aqueles com um gosto musical mais abrangente. Se você faz parte de um desses grupos, corra atrás de sua cópia, pois "Quarterpast" é um prato cheio!

Nota: 8,5


Tracklist:
01. Symphony Of Aggression
02. Mainstay Of Society
03. Quarterpast
04. Course Of Life
05. The Savage Massacre
06. Essenza Di Te
07. Bite The Bullet
08. Drown The Demon
09. Celibate Aphrodite
10. War On Terror
11. Tithe
12. Sinner's Last Retreat - Deed Of Awakening (Bonus Track)


terça-feira, 14 de junho de 2011

Review: Alestorm - Back Through Time

Por Rodrigo Luiz

Desde o primeiro álbum o Alestorm vem atraindo a atenção de muita gente por sua temática pouco comum: piratas. Captain Morgan's Revenge era inusitado, singular, e mostrava um jeito divertido e ao mesmo tempo épico de se fazer metal. Logo depois a banda lançou Black Sails At Midnight, não muito diferente do primeiro, mas que mostrava uma grande evolução, com um som mais calcado no power metal, com guitarras e teclados bem presentes e músicas mais inspiradas. E no terceiro álbum não há nenhuma novidade - se é que alguém esperava por isso - e novamente temos uma porção de músicas sobre bebidas, navios e brigas.

Uma das coisas boas de se falar da banda é que não tem muito o que falar mesmo. Não há necessidade de falar sobre o que desenvolveram, pois não mudaram em nada. E essa é sua maior força, pois o que a banda fez nos dois álbuns anteriores agradou a maioria dos que ouviram, e, apesar da ausência de mudanças, o terceiro álbum era esperado com uma certa ânsia por parte dos fãs.

Mas a maior força da banda também é sua maior fraqueza, tudo em Back Through Time é muito previsível, e sem tanta inspiração como o anterior. Neste álbum há até faixas que poderiam ser referentes a outras do álbum anterior: Black Through Time é bastante parecida com The Quest, Scraping The Barrel é uma versão menos inspirada de To The End of Our Days e Shipwrecked tem o mesmo contexto dentro do álbum que Kellhauled.

Isso não diminui a diversão que se tem ao ouvir o disco, pois ele tem bons momentos e entrega boas melodias, como as de The Sunk’n Norwegian, Midget Saw e Rum, a melhor, mas o torna bem menos instigante, pois piratas não é um tema fresco e intrigante como era anteriormente, e dificilmente agradará aos que já não gostaram da banda nos discos anteriores, mas para quem gosta da banda é um prato cheio. Um pouco mais de pretensão talvez ajudasse a banda a conquistar novos fãs. Não precisa mudar o estilo, só se preocupar um pouco mais em diversificar as música. Mas eles parecem satisfeitos com o que conquistaram e parecem não dar a mínima para isso.


Nota 7,0

Tracklist:
1. Back Through Time
2. Shipwrecked
3. The Sunk'n Norwegian
4. Midget Saw
5. Buckfast Powersmash
6. Scraping The Barrel
7. Rum
8. Swashbuckled
9. Rumpelkombo
10. Barrett's Privateers
11. Death Throes Of The Terrorsquid

Review: Symphony X - Iconoclast


Por Douglas Paraguassu

Uma das principais características do Symphony X é seu enorme esmero com o processo criativo e com a produção de seus álbuns, motivo pelo qual muitas vezes estendem o período entre um lançamento e outro e deixam de realizar turnês de divulgação. Mas também é motivo para o fato de não lançar CD's fracos, limitados ou de pouca inspiração. A mais nova prova disso é Iconoclast, que tem uma edição simples e uma em digipak, CD duplo, que será a analisada.

Falar da incrível técnica de cada membro da banda, notadamente das habilidades de Michael Romeo, um dos melhores guitarristas da atualidade, já é um tanto quanto chover no molhado. Mas o que a cada álbum deles impressiona e que deve ser destacado é a capacidade vocal de Russell Allen que se sobressai mais uma vez. Allen possui uma variedade enorme de técnicas, cantando com melodia ou de forma mais grave. Uma vez ele disse que não precisava berrar para demonstrar raiva e, de fato, com seu enorme desfile de drives, já bastante utilizados em Paradise Lost, canta rasgado e em harmonia com a música, algo em que poucos fazem como ele.

Iconoclast segue a linha de Paradise Lost: pesado, muito técnico, riffs abrindo as músicas de forma "cortante" e, como já citado, vocais mais rasgados. Nesse ritmo já das as caras a faixa título que provavelmente cairá no gosto dos fãs por ser a mais trabalhada e ter um ótimo refrão. Em seguida vem outros grandes destaques: The End Of Innocence - com seu pegajoso refrão - e Dehumanized, ambas disponibilizadas previamente na internet e já sendo tocadas nas apresentação ao vivo. Pontos altos também em When All Is Lost - que por seu ritmo lento comandado pelo belo piano, parece uma ilha calma rodeada por um mar revoltoso de canções -, Children Of A Faceless God e Prometheus (I Am Alive).

O ponto negativo fica por conta da preocupação um tanto demasiada com o peso, esquecendo de fazer um disco mais variado, especialmente no instrumental, com mais quebras de ritmo, e tentar uma nova Candlelight Fantasia (porque uma nova The Divine Wings Of Tragedy talvez seja pedir demais).

O resultado final, após tanto lapidar este disco, é bem satisfatório. O Symphony X parece estar embarcando em uma nova etapa do seu som, com menos progressividade de outros tempos, porém com mais vigor. Muitos não gostaram dessa mudança enquanto outros aceitaram e assimilaram bem. No final das contas, Iconoclast mantém o nível no alto e é recomendável.

Nota: 9,0




Tracklist:

Iconoclast
The End Of Innocence
Dehumanized
Bastards Of The Machine
Heretic
Children Of A Faceless God
When All Is Lost
Electric Messiah
Prometheus (I Am Alive)
Light Up The Night
The Lords Of Chaos
Reign In Madness

domingo, 12 de junho de 2011

Review: Foo Fighters - Wasting Light



Por Gabriel Albuquerque

Depois de quatro anos sem lançar disco, Dave Grohl resolveu reunir a sua banda na garagem de sua casa e gravar o novo disco do Foo Fighters. Grohl explicou a sua vontade de voltar às origens: ''A forma como você faz um álbum dita a forma como ele vai soar. Um dos meus discos favoritos [do Foo Fighters] foi nosso terceiro, que fizemos em meu porão na Virginia.'' Para fechar o ciclo de ''volta aos bons tempos'', o guitarrista Pat Smear retornou ao grupo e a produção ficou por conta de Butch Vig, que também produziu o Nevermind do Nirvana.

O riff metralhado seguido de um grito de Grohl em ''Bridge Burning'' mais o vocal quase Ininteligível e a guitarra distorcida em ''White Limo'' já são a prova de que este é o álbum mais pesado do conjunto americano.

Mas nem tudo é uma pancada seca. Há faixas que conciliam de forma majestosa peso e melodia, como ''Dear Rosemary', ''Back & Forth'' e ''Arlandria''. ''I Should Have Know'', que conta com o ex-companheiro de Nirvana Krist Novoselic no baixo, é introduzida como uma balada, mas se desenvolve numa ponte sedutora até eclodir em um grande refrão. ''One Of These Days'' também é uma espécie de semibalada com refrão grudento e instrumental sacolejante.

Com quase toda a discografia em nível mediano, o Foo Fighters produz um rock de garagem direto ao ponto e sem aparatos tecnológicos de última geração em Wasting Light. Começou com cinco caras tocando e se divertindo numa garagem e terminou o melhor álbum já lançado pela banda e grande concorrente as listas de melhores do ano.

Nota 9,5:



Tracklist:
01 – Bridge Burning
02 – Rope
03 – Dear Rosemary
04 – White Limo
05 – Arlandria
06 – These Days
07 – Back & Forth
08 – A Matter Of Time
09 – Miss The Misery
10 – I Should Have Known
11 – Walk

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