Por Gabriel Albuquerque
A imprensa musical existe há pelo menos cinco décadas, e com todo esse tempo de vida, já se tornou algo tão natural quanto a própria música.
A crítica e a imprensa cultural atual moderna têm como função básica separar o joio do trigo em meio ao turbilhão de informações vomitadas pela internet. E, claro, manter de pé compromisso com a imparcialidade, prevista em qualquer texto jornalístico. Coisa que qualquer ser humano pensante sabe – e talvez por isso não seja obrigatório o diploma para jornalistas.
Especificamente no meio musical, essa segunda parte do contrato não costuma ser respeitada, o que causa uma grande lacuna vazia no jornalismo musical nacional e internacional, que vive uma crise de mediocridade.
Para começar, a imprensa se divide em dois: uma metade que idolatra o passado e despreza o novo quando este não tem nenhuma referência com um som antigo; e uma metade que supervaloriza qualquer hype passageiro estourado na internet e aclamado previamente pela imprensa gringa. Esses tipos são encontrados, respectivamente, no mundo do heavy metal e a na turma indie/ alternativa.
Aí já está iniciada uma grande problemática: ao especializar-se em determinado gênero da produção musical, outro gênero, igualmente rico e produtivo, é automaticamente relegado ao abismo frio do descaso.
E exemplos não faltam para ilustrar ambos os lados.
Na turma do metal temos: Roadie Crew, Rock Brigade, Metal Hammer. E entre os indies: Pitchfork, Noize, NME, Q, Mojo e até falecida Bizz, que ostenta até hoje o posto de melhor publicação sobre música que o país já abrigou. E há ainda a chapa branca, que fica num meio termo sem graça, como é o caso das filiais nacionais da Rolling Stone e da Billboard.
E continuando, ao mesmo tempo em que se ligam a um determinado tipo de música, criam ídolos bairristas e aumentam o seu valor na primeira oportunidade, como é o caso, por exemplo, da relação amorosa do semanário New Musical Express (NME) com o Oasis e os irmãos Gallagher, que de tempos em tempos figuram na capa da publicação e no topo de alguma lista estapafúrdia; ou mais recentemente, o Stone Roses, que só este ano já esteve na capa da revista pelo menos cinco vezes.
A falta de profissionalismo é evidente em várias publicações, que parecem ainda viver no tempo das fanzines: resenhas que não dizem nada; reportagens água com açúcar que só fazem chover no molhado, entrevistas que só servem para enaltecer a personalidade do entrevistado, com perguntas que se misturam à elogios e notícias e matérias bobas para encher linguiça.
E quem fica no meio desse fogo cruzado - uma infame e infantil briga regional de estilos musicais antagônicos (mas conciliáveis) - é o leitor: o personagem mais prejudicado dessa história, sofrendo com uma briguinha infantil e a falta de profissionalismo.
E eis que surge mais um ouvinte usual: sem informação, sem argumentos, sem ideias e com uma visão parcial da música e sua beleza.