sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Review: Leonard Cohen - Old Ideas


Por Gabriel Albuquerque

O ser humano é mesmo curioso. Em um mundo onde a velocidade da informação é cada vez mais frenética e tudo tem de ser instantâneo, um dos discos mais esperados para 2012 vem de um senhor de septuagenário que grava sempre o mesmo disco e é famoso por sua voz arrastada, mais falando do que cantando.

Depois de um retiro espiritual num mosteiro budista para se ajudar-lhe com a depressão e exceção de álcool, Leonard Cohen estava no auge de seus 77 anos. No entanto, a alegria durou pouco: percebera que a sua empresária (e antiga namorada) havia praticamente zerado a sua conta bancária. Em 2006, o cantor e compositor canadense ainda ganhou na justiça uma indenização de 9,5 bilhões de dólares. Mas enquanto ela não paga a dívida, Cohen, que não lançava um disco de inéditas há oito anos foi obrigado à voltar a compor e subir no palco. Sorte nossa.

Como já avisa seu título, não há nada inovador em Old Ideas. Pelo contrário, segue a mesma estética de seus clássicos irretocáveis, que consagraram o bardo canadense e o colocaram em equivalência à gente como Bob Dylan e ainda influenciou nítidamente ícones do pop alternativo, tais como Ian Curtis (o líder suicida do Joy Division) e Nick Cave: lentas e singelas melodias acústicas, backing vocals harmoniosos, a voz barítona  deliciosamente desgastada e rasgada. E acima de tudo, suntuosas e sublimes composições.

Com elegância e sutileza, Cohen passa por soturnas harmonias que transitam entre o blues, folk e jazz. Mas que não deixam, em momento algum, de serem impactantes. Em ''Going Home'', que abre o CD, ele fala sobre si mesmo em terceira pessoa para montar um auto-retrato impiedoso e sombrio de si mesmo. ''Mostre-me o lugar/ Onde o sofrimento começou/ As confusões vieram / e eu salvei o que pude'', sussura em ''Amem'', sobre suas complicações financeiras.

Mas a cereja do bolo é mesmo ''Darkness'', o primeiro single do álbum, onde ganha força a aclamada - e o diada - veia melancólica. Com um murmuro arrastado, Cohen reflete com serenidade sobre a sua morte em versos assustadoramente sombrios, como ''Eu não tenho futuro/ Sei que meus dias são poucos'' e ''o presente não é mais tão agradável''. Tudo sob uma base jazzística anestesiante.

As velhas ideias deste senhor ainda são muito superiores à vários novas sensações do cenário musical. Não há nada de novo, mas Old Ideas é um trabalho soberbo desse eterno mestre dos infortúnios. Abençoados sejam os tristes - e suas respectivas empresárias.


Nota 9,0





Tracklist:
01 – Going Home
02 – Amen
03 – Show Me The Place
04 – Darkness
05 – Anyhow
06 – Crazy To Love You
07 – Come Healing
08 – Banjo
09 – Lullaby
10 – Different Sides

0 comentários:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More