Por Gabriel Albuquerque
No fim dos anos 1980 público musical estava segregado. De um lado estavam os headbanguers com o Metallica e o Slayer; do outro estavam os indies com o Pixies, REM e The Smiths. Nevermind quebrou a barreira, unindo o punk rock de garagem com o som mais melódico das bandas alternativas. O resultado redefiniu toda a música pop e serviu de trampolim do sucesso para grandes nomes do rock.
Depois do álbum de estréia Bleach, o Nirvana já tinha consolidado um nome na cena grunge e recebeu, após a indicação da baixista do Sonic Youth Kim Gordon, um convite para integrar o cast da grande gravadora Geffen. Além da mudança contratual, a banda também estava de baterista novo: Chad Channing foi posto pra fora e no seu lugar entrou Dave Grohl, ex-Scream.
Para o primeiro álbum com um selo maior, a banda dispunha de uma verba muito maior em relação aos 600 dólares para gravar Bleach. O frontman Kurt Cobain também tinha ambições maiores. Grande fã de Black Sabbath e Beatles, sempre perguntava-se como seria a união das duas bandas. Ao ouvir Pixies, descobriu que era possível juntar som pesado com refrões pop mais amigáveis para cantar junto. Desde então, fazer punk rock dilacerante mas com uma veia pop tornou-se o maior desejo de Cobain.
Para dar forma aos anseios de Kurt foi escalado o produtor Butch Vig, que acabara de trabalhar com o Smashing Pumpkins no álbum Gish. Butch foi fundamental na criação do que conhecemos hoje como Nevermind. Ninguém da banda tinha paciência para fazer mais de uma tomada ou outra técnica de produção mais apurada. Vig convenceu Cobain a sobrepor sua voz em faixas como o single principal ''Smells Like Teen Spirit'' com um simples argumento: ''John Lennon fazia''. Mas o principal feito do produtor foi suavizar o som do Nirvana, tornando mais acessível ao público comercial.
Foto do encarte de Nevermind |
Outro destaque é ''Something In The Way'', escrita por Cobain em um tempo difícil de sua vida quando teve de dormir embaixo de uma ponte em sua cidade natal Aberdeen. ''Depois de duas ou três tomadas a música simplesmente não fluía. Aí o Kurt sentou-se num sofá e começou a cantá-la cada vez mais baixo até que se torna-se um sussurro. Aí botei todos pra fora da sala e dei um gravador pra ele'', relembra Butch Vig. Para enfatizar as confissões chorosas, o produtor adicionou um quarteto de cordas lamentoso, e ''Something'', que fecha o álbum, tornou-se uma das melhores composições da banda.
Cena do clipe de ''Smells'' |
Com isso, ''Smells Like Teen Spirit'' é tida hoje um hino de rebelião juvenil, mas à época, não se tinha muitas pretenções com ela: ''pra gente era só mais um pedaço do disco, mas aí percebemos que era uma das preferidas de Butch e vimos que tinha algo especial'', revelou Dave Grohl.
A primeira vez que ''Smells'' foi apresentada ao vivo foi em um show no Ok Hotel para conseguir dinheiro para viajar até a Califórnia para gravar Nevermind e pode ser conferido no vídeo acima. A letra era um pouco diferente da que conhecemos atualmente, mas o riff arranhado, a dinâmica 'LOUD/quiet/LOUD' do Pixies e o entusiamo do público já marcavam presença.
O som que vigorava na MTV era o glam metal, ou rock farofa, liderado pelo Guns n´ Roses e representado por bandas da Sunset Strip, como Motley Crue. As letras sobre farra, bebedeira e sexo não representavam a realidade da maioria do adolescentes que viviam uma grande crise do governo americano.
Com Nevermind, o Nirvana destroçou o rock alienado. E depois de derrubar Michael Jackson do primeiro lugar das paradas, não só impediu a morte do grunge como o elevou ao mainstream. Se bandas como Pearl Jam, Alice In Chains e Soundgarden são lembradas como grandes ícones do rock, uma parte disso deve-se a Nevermind. A rock tornou-se pop, mas sem perder a criatividade e os culhões.
Três anos mais tarde, Kurt Cobain cometeu suicídio e sua figura foi colocada em um pedestal mais alto do que sua vida e seu talento foi supervalorizado. O culto completamente parcial e radical a Kurt Cobain é ridículo, reconhecer a qualidade e a revolução de Nevermind é essencial.
2 comentários:
Finalmente você se rendeu ao Nirvana, Gabriel.
Mesmo quem critica (e você fez isso lá na Comissão) um dia coloca uma música do Nirvana para tocar e acaba virando fã huashua
Não é que eu critique a banda, mas acho que ela é supervalorizada. Tem bons discos´, um ótimo (Bleach) e um excelente, que realmente revolucionou o rock (Nevermind), mas os fãs põem Kurt Cobain num pedestal o tempo todo, dizendo que foi um dos melhores guitarristas e vocalistas de todos os tempos. Aí eu não concordo, acho até insanidade.
Postar um comentário