quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Review: Tom Waits - Bad As Me


Por Gabriel Albuquerque

Bob Dylan, Van Morrison, David Bowie, Chico Buarque, Leonard Cohen. Alguns dos principais compositores da história da música ainda estão na ativa, mas são raros os que se mantém com o seu trabalho atual e não apenas com glórias passadas. A grande maioria se contenta com um disco razoável e uma turnê recheada de clássicos para esquentar os corações nostálgicos. Antigos contestadores, formadores de opinião e revolucionários que se aquietaram e se conformaram com sua casa espaçosa e sua conta bancária gorda.

Felizmente há exceções. Com 62 anos de idade e 17 discos lançados, Tom Waits continua se mantendo importante, ainda que tenha diminuído o ritmo: entre Real Gone e Bad As Me, seus últimos álbuns de estúdio, há um espaço de longos sete anos.

Mas criticá-lo pela demora em lançar material novo é um crime. Afinal de contas, não se apressa a arte. E muito menos quando quem está por trás dela é um mestre como Tom Waits. Até porque já havia bastante pressão e cobrança de sua esposa, Kathleen Brennan, que exigiu do músico letras mais e sonoridades mais fáceis.

E seguindo as ideias de sua companheira, Tom Waits traça em Bad As Me um caminho mais palatável e acessível. Tanto musical quanto liricamente, tudo é mais coeso e comprimido: das 13 músicas do álbum, apenas três ultrapassam os quatro minutos. E a quanto à música, os barulhos estranhos e sons experimentais foram substituídos por uma deliciosa viagem aos blues dos anos 1930 e 1950.

Mas por ser mais digestível, Tom Waits não deixou de ser um grande letrista, preenchendo o abismo entre ininteligível e o inane. Enquanto ''Get Lost'', ''Chicago'' e o ''hino à vida'' ''Satisfield'' (uma resposta ao clássico dos Stones ''Satisfaction'') fariam sucesso em qualquer pista de dança negra dos anos 1950, ''Hell Broke Luce'' é uma crítica cínica, irônica e raivosa às consequências da guerra na mente humana.

E ainda que as melhores faixas sejam as mais viscerais ''Bad As Me'', ''Satisfield'' e ''Hell Brooke Luce'' (esta última a mais elaborada do play e com participação de Keith Richards, que também aparece em ''Chicago''), as músicas mais lentas também são de grande importância. As batidas lentas, quase monótonas, onde o seu gutural se amansa, escondem pequenas obras-primas. Na dolorosa ''Kiss Me'', ele implora: ''Me beije como um estranho novamente''; e na quase auto-biográfica ''Last Leaf''. Tom Waits analisa: ''Sou a última folha na árvore / o outono levou os demais / mas não me levará''.

E ele está certo. Bad As Me é um disco primoroso, do mesmo (alto) nível dos principais trabalhos do compositor e que se sustenta independentemente de seu passado. Tom Waits é um dos maiores compositores dos últimos tempos, mas também é artista inquieto e que se mantém pelo seu trabalho atual. Enfim, a última folha da árvore.


Nota 9,0:



Tracklist:
01 – Chicago
02 – Raised Right Men
03 – Talking at the Same Time
04 – Get Lost
05 – Face to the Highway
06 – Pay Me
07 – Back in the Crowd
08 – Bad as Me
09 – Kiss Me
10 – Satisfied
11 – Last Leaf
12 – Hell Broke Luce
13 – New Year’s Eve
14 – After You Die

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