Por Gabriel Albuquerque
O festival pernambucano No Ar Coquetel Molotov aconteceu esse final de semana no Teatro da UFPE, em Recife. O que começou como simples programa de rádio é hoje um dos eventos culturais mais importantes do país, e apresenta bandas nacionais e internacionais que tem menor visibilidade no mercado à um público maior. A edição de 2011 manteve a maestria das anteriores com a mescla de novos grupos como Guillemots e Romulo Fróes, com os já consagrados Lobão e Racionais MC's.
Pela segunda vez consecutiva, o festival também foi prolongado por Salvador, que recebeu shows de Lobão, Guillemots, Mundo Livre S/A, Mombojó, comemorando 10 anos de carreira, a lenda viva Tom Zé, que fez aniversário no palco, entre outros. Confira as resenhas dos oito shows do palco principal em Recife:
Primeira noite
Maquinado
O projeto solo do guitarrista da Nação Zumbi, Lúcio Maia, abriu as atividades no palco principal do festival, que ainda estava povoado, pelo fato de concorrer com outros eventos como o PE Folia e a primeira Virada Multicultural do Recife.
Já prata da casa, o público recebeu o guitarrista de braços abertos. Maia devolveu na mesma moeda com uma apresentação bem despojada, cumprimentando a platéia com frequência entrelaçadas com músicas que misturam guitarra pesada com elementos de música eletrônica e africana, como ''Bem Vinda ao Inferno'' e ''Dandara'', respectivamente.
Não foi uma grande performance, mas foi agradável e serviu de aquecimento. No fim do show, o guitarrista ainda convidou o público para assistir à Nação Zumbi, poucas horas depois, na Virada Multicultural: ''sigam-me os bons''.
HEALTH
Com apenas dois discos lançados e história relativamente curta, pouco esperava-se dessa banda americana de Los Angeles. Mesmo assim, quando o quarteto subiu ao palco e começou a tocar seu rock lo-fi com bateria pesada, guitarra distorcida e influências da noise music (tipo de som que costuma ser execrado por um público mais popular), logo cativou a atenção do público
O repertório foi focado no último disco da banda, Get Color (2009), com faixas como ''Die Slow'' e ''Eat Flesh'', mas também foram interpretadas canções de sua estréia, como ''Heaven''. Eles também investiram bastante na hair choreography (leia-se: se jogou no cabelão).
Mostrou um grupo que sabe a diferença entre o experimentalismo e exibicionismo. Uma agradável surpresa, seguindo a ideia do festival: mostrar boas bandas independentes para um público maior.
Guillemots
Esse grupo já é bem conhecido na cena inglesa. O single ''Get Over It'' alcançou o 20º na parada e o álbum Red (2008) chegou ao 9º lugar. Também foi indicado à dois dos mais importantes prêmios britânicos, o BRIT Award e Mercury.
No Brasil a banda teve repercussão maior pelo seu tecladista, o paulista MC Lord Magrão, e músicas como ''Trains to Brazil'' (um de seus hits mais aguardados), ''São Paulo''. Sendo assim, ingleses já eram aguardados por um pequeno grupo de pós-adolescentes, que cantavam juntos canções como ''I Must Be a Lover'' e as já citadas ''Get Over It'' e ''Trains to Brazil''. Ao contrário da atração anterior, o Guillemots investiu pouco nas músicas de seu novo álbum, Walk The River.
A dúzia de fãs convictos saíram satisfeitos, e o público geral, que esperava impacientemente por Lobão, aprovou.
Lobão
Não era pra ele estar lá. Lobão entrou no line-up às pressas, depois do cancelamento em cima da hora do grupo inglês The Fall, com o líder Mark Smith alegando problemas de saúde. Mas o multi-instrumentista estava longe de ser visto com maus-olhos: alguns meses atrás, seu show na Concha Acústica (no mesmo teatro da UFPE, onde acontece o Coquetel Molotov) foi cancelado pelas fortes chuvas na capital pernambucana.
Apesar de um leve problema na garganta, Lobão fez um show bastante energético e revelou-se um ótimo guitarrista ótimos solos e com uma banda de apoio igualmente competente. O set-list mesclou canções menos conhecidas com todos os seus maiores sucessos como ''Vida Louca Vida'', ''Décadence Avec Élégance'', ''Me Chama'', ''Rádio Blá'' e ''Essa Noite Não''. O músico também soube encaixar bem as suas músicas novas, que vem apresentando recentemente, como ''Agora é Tarde''. No bis, ainda veio com uma boa versão de ''Help'', dos Beatles e ''Corações Lisérgicos'', até a saudação final: ''obrigado Recife. Foi Bíblico!''.
Típico dos grandes nomes do rock brasileiro, com hits do início ao fim, que agradam à todos e sempre garante um show de qualidade.
Segunda noite
Romulo Fróes
Desde que lançou seu primeiro disco, em 2006, esse músico paulista vem reformulando o samba (que nos últimos tempos tem sido recebido com reverência irritante pelas novas gerações) com abordagens minimalistas e letras obscuras cheias de jogo de palavras.
A maior parte do set-list focou o novo e elogiado álbum Um Labirinto Em Cada Pé, incluindo a dramática introdução ''Olhos da Cara'', recebida com atenção assustadora do público no teatro, que ainda era pequeno.
Apesar da qualidade inquestionável das composições e da muito competente banda de apoio, o músico não demostrou nenhuma empatia com o público, que passou a ignora-lo e empolgava-se apenas com os solos e frequente distorções do guitarrista Guilherme Held, que se permitiu aumentar um pouco mais o volume do seu instrumento.
A música executada foi impecável, mas faltou presença de palco e um pouco mais de simpatia para instigar a audiência. Não era dificil encontrar alguém dormindo nas cadeiras do teatro.
The Sea and The Cake
Apesar de estar na ativa há mais de uma década, o grupo americano The Sea and The Cake, que une indie rock com influências de jazz é praticamente desconhecido.
Para o festival, trouxe músicas do recém lançado The Moonlight Butterfly, que tem boas músicas e que prezam pela melodia, como''Up On The North Shore''.
Mas o que aconteceu foi um fracasso. A banda tocava num evidente piloto automático, e com exceção do sempre vibrante baterista John McEntire, nenhum transparecia alegria ou prazer, tocando como se fosse uma obrigação. O guitarrista e vocalista Archer Prewitt, que cantou num volume incompreensível, não olhou para público em momento algum, e as simplórias melodias de guitarra dos discos perderam toda a beleza ao serem excutadas com frieza constragedora nesse que foi o pior show do festival.
China
O cantor pernambucano está no auge da carreira. Seu trabalho como carismático apresentador da MTV Brasil despertou curiosidade em sua música, que agora tem um alcançe muito maior.
Sua energia e natural interação com o público mais músicas de refrão fácil e a grande vontade de tocar no festival (que segundo ele sempre traz um grande interessante mais orgulho por acontecer na sua querida cidade natal) já anunciavam que a apresentação seria de qualidade. Mas ele foi além. Não se intimidou com o teatro lotado (em sua maioria esperando para ver Racionais, que tocava na sequência), e logo fez o convite para que a audiência se levantar e dançar.
Seus fãs sabiam todas as letras do início ao fim (o pernambucano chegou a entregar o microfone à uma fã durante a balada ''Terminei Indo''). O teatro vibrou com ''Distante Amigo'' e ''Nem Pensar em Você''; a conterrânea Ylana Queiroga participou de um bom dueto em ''Mais Um Sucesso Pra Ninguém''; mas o ponto mais alto foi o encerramento, com ''Só Serve Pra Dançar'', onde China chamou todos para subir no palco e dançar junto com ele.
Racionais MC's
Uma das atrações mais aguardadas do festival, gerou grande estranhamento pelo fato de ter que tocar em um teatro. Mas ao contrário do que diziam os comentários preconceituosos, o show decorreu sem confusão alguma.
Poucos minutos após o termino do show de China (que teve humildade pra reconhecer que o público queria mesmo era Racionais), o ''gargarejo'' do palco se abarratou com um público totalmente diferente da apresentação anterior. Os indies mais comuns no festival deram lugar à pessoas de classes sociais mais baixas, alguns de cidades do interior do estado, que foram apenas para ver a trupe comandada por Mano Brown.
Os fãs estavam altamente ansioso e ensadecido. Bastou as picapes do DJ KLJ serem trazidas ao palco para o público enlouquecer. Quando o grupo deu às caras, o teatro inteiro entrou em êxtase. Os hits ''Negro Drama'', ''Homem na Estrada'', ''Jesus Chorou'' (que contou com a participação de Helião, da RZO de São Paulo), ''Vida Loka Parte 1'' tinham todos os seus versos críticos entoados quase como um cântico sagrado.
A banda abriu com outro sucesso, ''Artigo 157'', também cantada em uníssono por todos os presentes. O microfone de Brown pifou no fim da canção, que foi completada pela audiência.Apesar desse problema mais a baixa qualidade de som, que dificultava a compreensão das letras, e o expressivo consumo de drogas dentro do teatro (para todo tinha alguém enrolando um cigarro de maconha), o show foi histórico.
A todo momento o palco era invadido por algum fã, que abraçava, tirava foto, filmava e tudo mais. Depois disso, descia voltava para o seu lugar. Até alguns seguranças se deixaram levar e filmavam o show. Quando o champanhe foi aberto em ''Vida Loka Parte 2'', foi inevitável segurar o público, que tomou todo o palco do teatro à ponto de não se ver mais nenhum integrante da banda. Uma cena inesquecível, provando que a música tem sim o poder de quebrar barreiras e destruir preconceitos.
Poucos minutos após o termino do show de China (que teve humildade pra reconhecer que o público queria mesmo era Racionais), o ''gargarejo'' do palco se abarratou com um público totalmente diferente da apresentação anterior. Os indies mais comuns no festival deram lugar à pessoas de classes sociais mais baixas, alguns de cidades do interior do estado, que foram apenas para ver a trupe comandada por Mano Brown.
Os fãs estavam altamente ansioso e ensadecido. Bastou as picapes do DJ KLJ serem trazidas ao palco para o público enlouquecer. Quando o grupo deu às caras, o teatro inteiro entrou em êxtase. Os hits ''Negro Drama'', ''Homem na Estrada'', ''Jesus Chorou'' (que contou com a participação de Helião, da RZO de São Paulo), ''Vida Loka Parte 1'' tinham todos os seus versos críticos entoados quase como um cântico sagrado.
A banda abriu com outro sucesso, ''Artigo 157'', também cantada em uníssono por todos os presentes. O microfone de Brown pifou no fim da canção, que foi completada pela audiência.Apesar desse problema mais a baixa qualidade de som, que dificultava a compreensão das letras, e o expressivo consumo de drogas dentro do teatro (para todo tinha alguém enrolando um cigarro de maconha), o show foi histórico.
A todo momento o palco era invadido por algum fã, que abraçava, tirava foto, filmava e tudo mais. Depois disso, descia voltava para o seu lugar. Até alguns seguranças se deixaram levar e filmavam o show. Quando o champanhe foi aberto em ''Vida Loka Parte 2'', foi inevitável segurar o público, que tomou todo o palco do teatro à ponto de não se ver mais nenhum integrante da banda. Uma cena inesquecível, provando que a música tem sim o poder de quebrar barreiras e destruir preconceitos.
6 comentários:
E já rolam alguns boatos de que a edição de 2012 vai ter Calypso. Mas até agora nada foi confirmado. Felizmente.
corrigindo, o HELIÃO não é de Recife. Helião é da RZO de São Paulo, porem, o Zé Brown e o outro que me foge o nome são de Pernambuco
Guillemots não tocou Redwings nem Come Away With Me, das citadas tocou apenas Trains to Brazil e São Paulo.
Anônimo I - Correto, o Helião é da RZO;
Anônimo II - O Guillemots tocou Come Away With Me sim, mas não Redwings;
Ambos erros devidamente corrigidos.
Eles não tocaram Come Away With Me. Tá aqui o setlist se você quiser ver http://www.setlist.fm/setlist/guillemots/2011/teatro-da-ufpe-recife-brazil-3bd050ac.html
Cara, me lembro deles tocando Come Away..., mas já que o setlist diz que não, só posso admitir o erro. Obrigado!
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