segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Tim Maia Vale Tudo - O Musical (Teatro da UFPE, Recife, 17/09/11)


Em 2007 foi lançada uma das biografias mais interesssantes da música brasileira: Vale Tudo - A Fúria e o Som de Tim Maia. O livro de Nelson Motta de imediato foi aclamado pela crítica e público ao esmiuçar a vida do ídolo e amigo com um texto leve e irreverente, recheado de histórias engraçadas que cobriram a vida do cantor carioca. O sucesso também se refletiu nas vendas, e a partir do êxito do Best-Seller, que reacendeu o interesse do público pela obra de Tim, foi programado um filme sobre o músico e toda a sua discografia foi relançada, com direito a um disco inédito e outros nunca lançados em CD, pela Abril, com todos os álbuns vendidos em bancas de revistas a preços populares.

O diretor João Fonseca não era íntimo da obra de Tim Maia: ''ouvi quase tudo e fiquei louco pela música de Tim Maia. Por este talento dele de pegar uma frase simples e transformar em algo sofisticado''. Fonseca, que já trabalhou em dois musicais das quase trinta peças do currículo, aproveitou o 'auê' em torno do músico e decidiu fazer a Tim Maia Vale Tudo - O Musical, inteiramente baseado no livro de Nelson Motta, que assina o roteiro da peça.

Logo de cara, enfrentou o desafio de achar alguém que pudesse interpretar o desregado, malandro e irreverente personagem principal. A solução veio com o jovem de 23 anos Tiago Abravanel, neto de Senor Abravanel, que nos domingos atende por Sílvio Santos. ''Ele mal abriu a boca e eu já sabia que seria ele'', contou o diretor, que resolveu o problema da diferença étnica entre ator e personagem com uma grande equipe de maquiagem - o processo de transfiguração de Tiago demora no mínimo duas horas.



O espetáculo mostra a vida de Tim desde os doze anos de idade, quando entregava as marmitas do pai e ganhou a alcunha de 'Tião Marmiteiro' até sua morte com 55 anos em 1988, incluindo a sua banda da juventude Sputniks, que tinha também Roberto Carlos, sua viagem aos Estados Unidos, a fase em que mergulhou de cabeça na seita esotérico-religiosa Energia Racional e o fim da sua carreira afundado em tristeza profunda e cada vez mais viciado nas drogas, que consumia em escalas industriais. Além de Roberto, parecem também outras figuras da MPB que estão ligadas a Tim: Elis Regina, Erasmo Carlos, Jorge Ben, Chico Buarque, Edu Lobo e o próprio Nelson Motta.

Tudo é contado com bom humor que torna o show envolvente e divertido até para aqueles que nunca ouviram falar do Síndico. Entre os momentos que se ressaltam estão a hilária imitação de Roberto Carlos por Reiner Tenente (que também interpreta Motta); o desfile das tiradas clássicas de Tim, como ''Não fumo, não bebo e não cheiro. Só minto um pouquinho''. As cenas de abuso das drogas, como quando Tim distribui LSD aos funcionários da gravadora e faz o que chamava de 'triatlo' - uma maratona de maconha, cocaína e whisky - fazem o público chorar de rir.

Mas apesar do estilo escrachado e da vida carregada de anedotas, o musical não é cômico. Graças ao ótimo elenco, que canta e atua com destreza (além de Abravanel, destaca-se Izabela Bicalho, que interpreta Elis Regina no belíssimo dueto em ''These Are The Songs) e a fidelidade aos relatos de quem acompanhou de perto a vida do personagem principal, o que se tem é uma reprodução do que foi a vida de Tim Maia. As palavras de seu filho Carmelo podem descrever melhor: ''não vi um ator no palco imitanto Tim Maia, eu vi o meu pai''.

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